FEA TEM 30 DOCENTES NO RANKING DOS MAIS CITADOS

Pelo menos 30 professores da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEAUSP) estão na última edição do Ranking Web of Universities (Webometrics Ranking), que reúne os seis mil pesquisadores de instituições brasileiras com mais citações em publicações científicas e trabalhos acadêmicos rastreados na internet. O Webometrics Ranking é uma iniciativa do Cybermetric Lab, um grupo de pesquisa do Consejo Superior de Investigaciones Cientificas, da Espanha.


O ranking foi baseado em dados coletados na 4ª semana de abril de 2015 no Google Scholar (Google Acadêmico), uma grande base de dados bibliográfica livre, que fornece o número de citações recebidas pelos artigos incluídos no perfil público do cientista. Dos seis mil ranqueados, 1.800 são da USP. Como não há referência à unidade que são vinculados, o Gente da FEA conseguiu identificar ao menos 30 professores da Faculdade.

O Prof. Decio Zylbersztajn, do departamento de Administração (EAD), é o campeão do ranking entre os professores da FEA, figurando na posição 687ª, com 29 de índice-H (indicador de impacto das pesquisas) e 3.480 citações. Em segundo lugar vem o Prof. Naércio Aquino Menezes Filho, da Economia (EAE), na 724ª colocação com índice-H 29 e 2.433 citações. O terceiro professor é Eliseu Martins, da Contabilidade (EAC), na 1.059ª posição do ranking com índice-H 25 e 6.545 citações.

A classificação é definida tendo como primeiro critério o índice-H e depois o número de citações. Por exemplo, se a quantidade de citações do pesquisador A for maior que a do pesquisador B, mas o seu índice-H for menor, o pesquisador B leva vantagem na classificação. Caso haja empate no índice, daí as citações definem quem ficará na frente. No caso dos ranqueados da FEA, apesar de Eliseu Martins ser o mais citado entre os três primeiros, ele fica em terceiro lugar porque o índice-H dos demais é maior.

O índice-H foi criado pelo físico Jorge E. Hirsch, em 2005, com a proposta de medir a produtividade do pesquisador e o impacto das citações geradas por seus artigos publicados em periódicos indexados. Ele representa o número de artigos com citações iguais ou maiores a esse número. “Se o índice H de um pesquisador é 10 significa que ele tem pelo menos 10 artigos que geraram ao menos 10 citações cada um”, explica o Prof. Fábio Frezatti, editor da Revista Contabilidade & Finanças da USP e professor titular do EAC. Segundo ele, quando o índice foi proposto, Hirsch estava preocupado com a questão: “O que é mais importante para o autor, a quantidade de citações ou a densidade?”.

O Webometrics é divulgado a cada três meses e avalia estudiosos do mundo todo, por países e regiões. Para entrar no ranking, o pesquisador deve cadastrar um perfil no Google Acadêmico e torná-lo público. A partir da palavra-chave (nome padrão do autor), o sistema rastreia os periódicos e alimenta o banco de dados. Para aumentar a precisão das informações, o administrador da página deve corrigir e atualizar seus dados com frequência, revendo e incluindo ou excluindo artigos que não estejam adequados. “Em tese não deveria ter erro, mas vamos supor que o periódico errou alguma letra do nome do autor, nesse caso o sistema não captura a informação”, alerta Frezatti. 

 


O Google Acadêmico vem tornando-se uma ferramenta para a visibilidade e evolução da carreira do pesquisador a ponto de a Fapesp utilizar seus indicadores para analisar projetos que necessitem financiamento e o CNPq pensar em usá-los como requisito para bolsa PQ. “A gente cria reputação gerando pesquisas e publicando essas pesquisas”, afirma Frezatti, sugerindo, porém, cautela na hora de usar o indicador como direcionamento e comparação, principalmente entre áreas.

Campeão de citações da FEA
O Prof. Decio Zylbersztajn ficou surpreso ao saber que liderava o Webometrics entre os cientistas da FEA. “Fiquei superfeliz. O fundamento da vida acadêmica é gerar e difundir o conhecimento. E você tem certeza que difundiu quando alguém leu”. Seu artigo mais citado no ranking é “Estruturas de governança e coordenação do agribusiness: uma aplicação da nova economia das instituições”, de 1995, sua tese de livre docência. Esse trabalho, que visa a contribuir para o conhecimento da coordenação de sistemas agroindustriais, teve até o momento 421 citações.
Para o docente, que é coordenador do PENSA – Centro de Conhecimento em Agronegócios, o ranking é importante porque o Brasil sempre esteve aquém dos rankings mundiais. “A gente vai paulatinamente mudando isso, tanto no âmbito da USP que tem uma bandeira de internacionalização, como em termos do próprio país, de a gente mostrar que nossos índices têm uma equivalência com os de colegas do mundo todo”.

Por outro lado, Zylbersztajn enxerga um risco nessa corrida por citações que existe no meio acadêmico. “Existe um ditado nos EUA que reflete bem esse fenômeno: ‘Publish or perish’ (publique ou morra)”. Para o pesquisador, a competição tornou-se de tal maneira exaustiva, a ponto de alguns docentes adotarem maneiras não éticas de potencializar as citações, pedindo por exemplo para seus alunos citarem seus trabalhos. Outro artifício – completa – é o chamado “salame publication”, quando o autor “fatia” em 10 uma publicação que deveria ser apenas um artigo. “Isso tudo virou técnica para aumentar citações”.

O Prof. Decio Zylberstztajn sugere que os novos docentes encarem o volume de citações como uma coisa natural e não como uma imposição da Capes. Ele cita o caso do Nobel de Economia de 1991, Ronald Coase, que publicou dois artigos de grande impacto: “The Nature of the Firm“ (1937) e “The Problem of Social Cost” (1960). “Esses dois artigos revolucionaram o modo de pensar da economia aplicada às organizações. Ele é um dos homens mais citados hoje na história da economia, devido a esses dois artigos. Ironicamente, eu diria que talvez hoje ele não atingisse os critérios que levam em conta o volume de publicações”.

Relativizar o ranking
Segundo mais citado entre os professores da FEA, Naercio Menezes considera o Google Acadêmico uma ferramenta bastante útil para pesquisa bibliográfica, mas pondera que é preciso relativizar seus resultados porque ele é abrangente demais. “Nem todas as citações são em revistas especializadas com alto fator de impacto. Uma coisa é você ser citado na ‘American Economic Review’, outra num TCC de uma universidade desconhecida”. A seu ver, toda a citação é importante, pois mostra o alcance da pesquisa, porém existem outros rankings mais respeitados academicamente. Cada ranking tem um peso diferente e o Google é mais popular.

O trabalho mais citado de Naércio Menezes, com 135 citações, é “Realocação do trabalho em resposta a uma liberalização comercial”, de 2011, publicado na NBER – National Bureau of Economics Research, que reúne todos os mais importantes textos para discussão de economistas americanos. O estudo verificou o impacto, na década de 90, da redução das tarifas de importação no Brasil, medida adotada por Collor e Sarney para aumentar a competição do mercado. Com isso, muitos trabalhadores perderam o emprego, principalmente nos setores têxtil e de calçados, migrando para o setor de serviços e aumentando a informalidade.

Autora: Cacilda Luna
 

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19/8/2015 Voltar